Semiologia e Semiótica | |
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ROTEIRO 1-Introdução. 2-Conceitos importantes. 2.1- Semiologia. 2.2- Lingüística. 2.3- Signo. 2.4- Imagem Acústica. 2.5- Significado. 2.6- Significante. 2.7- Estrutura. 2.8- Classes e comutação. 2.9- Mensagem. 2.10- Sintomas. 2.11- Sinal. 2.12- Síndrome. 2.13 – Transtorno. 2.14- Posição recalcadora e seu sistema objetal. 3-Origem da Semiótica. 4- Semiologia Psicanalítica – Fragmentos. 4.1- Evolução Psicoemocional. 5- Semiologia Psiquiátrica. 5.1- Alguns Mecanismos de Defesa. 6- Ferdinand de Saussure. 6.1- O Projeto Semiológico de Saussure. 7-Charles Sanders Peirce. 7.1-Primeiridade, Secundidade e Terceiridade. 7.2-Pragmatismo e Abdução. 7.3-Signos. 8-Bibliografia. 1- INTRODUÇÃO. A psicanálise, a semiologia e a teoria da comunicação podem ser sistematizadas e integradas de uma maneira metódica e ao mesmo tempo prática no cotidiano da psicanálise. Este trabalho buscará fundamentar uma operacionalidade da psicanálise, com contribuições da semiologia e da teoria da comunicação, com vistas a uma estratégia terapêutica que possibilite cobrir os níveis da ação analítica, criando modelos que permitam re-orientações pragmáticas no sentido de facilitar, ao analista, uma visão mais abrangente da problemática que lhe é exposta pelo paciente. A compulsão à repetição, localizada a partir das estruturas narrativas, possíveis de serem detectadas e traduzidas operacionalmente através do material fornecido pelo paciente ao analista em um sistema de signos passível de codificação e conseqüente sistematização. Vivemos no século da comunicação. Para alguns, o nosso mundo constituiria já uma autêntica "aldeia global", habitada por umas “tribos planetárias”, possibilitadas uma e outra, pelas novas tecnologias de informação e comunicação. Para outros, a sobrecarga de "informação" e "comunicação" não se traduz, necessariamente, em maior aproximação e solidariedade entre os homens, conduzindo antes a novas formas de individualismo e etnocentrismo. "Comunicar" significa, etimologicamente, "pôr em comum". No processo de comunicação, que simplificadamente podemos entender como a troca de uma mensagem entre um Emissor e um Receptor, os Signos desempenham um papel fundamental. Sem Signos, não há mensagem, nada podemos pôr em comum. Os Signos são tão importantes que se pode (e costuma) definir, de forma essencial, a Semiótica como a "ciência dos signos". A ciência chamada Semiótica, ou teoria geral e da produção dos signos, teve sua origem na Rússia, na Europa Ocidental e na América. A semiótica, atualmente, é um campo de grande amplitude e variedade teórica. O autor Charles Peirce foi o fundador da semiótica. Saussure, no Curso de Lingüística Geral, falava de uma semiologia, que pode ser comparada ou diferenciada da semiótica propriamente dita. Atualmente, Umberto Eco é um especialista em semiótica. As idéias de Saussure foram difundidas por seus alunos Charles Bally, Albert Sechehaye e Albert Riedlinger com a produção do livro Curso de Lingüística Geral, construído com base nas anotações de sete dos alunos do curso homônimo (três versões: entre 1907 e 1911) e de alguns manuscritos do próprio Saussure. A edição 1916a foi complementada pelo italiano Tullio de Mauro em 1972, originando uma nova edição standard (1916c). A tradução brasileira surgiu em 1969 (Saussure, 1916d). Só recentemente, as notas de mais um estudante de Saussure foram descobertas, resultando na edição, em Tóquio, de um novo livro intitulado Ö terceiro curso (Saussure, 1993). F. Saussure estabeleceu a distinção entre “língua” e “fala” para que o paciente possa reconhecer um signo como tal e atribuir-lhe seu designado correspondente. É necessário que previamente possa apoiar-se, por um lado, nas representações psíquicas (ou significantes) dos “sons” concretos e, por outro, nas representações psíquicas (ou significados) dos referentes também concretos com os quais se relacionam esses sons. Os “signos” psíquicos, no sentido saussuriano do termo, serão constituídos, portanto, pela união dos “significantes” (ou imagem acústica dos sons) e dos “significados” (ou conceitos do referente). A oposição de dois signos complementares determina, por sua vez, uma “estrutura” ou “código”. O estudo específico da relação lateral que se estabelece entre os significantes ou entre os significados será denominado por Saussure de “valor”. O usuário poderá estabelecer relações semiológicas corretas entre “sinais” e “mensagens” se tiver previamente formado de maneira correta as classes significantes e significadas correspondentes. Quando o usuário funciona como emissor e transmite uma mensagem por meio de um sinal, faz um “incoding”, uma codagem ou codificação. Quando funciona como receptor, recebe um sinal e dele deduz uma mensagem, faz um “decoding”, uma decodagem ou decodificação. As mensagens inconscientes, por exemplo, seriam essas automensagens que o sujeito codifica por si mesmo e que depois não sabe mais decodificar. Dentro dessa perspectiva, o psicanalista trabalha a título de intérprete entre o inconsciente, emissor que transmite em cifra, e o pré-consciente, receptor que não pode decriptar essa cifra sob pena de experimentar desprazer. Na patologia da comunicação do paciente psicanalítico, vemos fenômenos de codificação ou de decodificação patológicas ligadas a uma delimitação incorreta de classes significantes e de classes significadas; o que tem como conseqüência uma pragmática incorreta da comunicação. O paciente psicanalítico se põe em comunicação patológica, de um ponto de vista pragmático, com seus objetos - na transferência, com seu analista -, na medida em que as classes significantes de seu código informativo (equivalentes, às representações de palavras segundo Freud) e as classes significadas desse mesmo código (ou representações das coisas). Foi através dos trabalhos de Melanie Klein, Hanna Segal, Wilfred R. Bion e outros autores da escola inglesa, bem como através dos de Jacques Lacan, André Green, Jean Laplanche e outros autores da escola francesa, que progressivamente tomamos consciência da importância de que se revestem os símbolos e os signos na teoria e na prática psicanalíticas, a tal ponto que acabaram surgindo para nós como domínio específico das pesquisas e modificações constitutivas do trabalho do psicanalista. 2- CONCEITOS IMPORTANTES. 2.1- SEMIOLOGIA. É a ciência geral dos signos, que estuda todos os fenômenos de significação. Tem por objeto os sistemas de signos das imagens, gestos, vestuários, ritos, etc. 2.2- LINGÜÍSTICA. Estuda os signos lingüísticos, da linguagem. Nasceu do estudo das línguas românicas e das línguas germânicas. Os estudos românicos, inaugurados por Diez – sua Gramática das Línguas Românicas data de 1836-1838 -, contribuíram particularmente para aproximar a Lingüística do seu verdadeiro objeto. 2.3- SIGNO. Entidade constituída pela combinação de um conceito de significado, e uma imagem acústica denominada significante. Signo = Significante (som) + Significado (objeto) 2.4- IMAGEM ACÚSTICA. Não é a palavra falada (ou seja, o som material) mas a impressão psíquica desse som. 2.5- SIGNIFICADO. É a palavra equivalente no mesmo ou em outro idioma. É a representação, na linguagem do significante. Corresponde ao conceito ou à noção, ao passo que o significante corresponde à forma. Todo objeto, forma ou fenômeno que representa algo distinto de si mesmo: a cruz como significado do “cristianismo”; a cor vermelha significando “pare” par o código de trânsito, etc. O significado tem um código afetivo (angústia), relacionado ao fato psíquico no Inconsciente, não sabido, objeto referido. Exemplo: angústia não aniquiladora (prazer), angústia aniquiladora (dor). 2.6- SIGNIFICANTE. É a parte fônica, a imagem acústica de um fonema provido de significação. O significante tem um código informativo : sintomas / relações objetais. Pré-consciente, Consciente, verbalizado, som. Exemplo: continente (amada), Não continente (não amada) Devemos buscar determinar em cada relato de nossos pacientes qual a relação objetal em evidência (sabida: significante/Pré-consciente/Consciente) para podermos inferir sobre a angústia relacionada (não sabida: significado/ Inconsciente). 2.7- ESTRUTURA. É o sistema que compreende elementos ordenados e relacionados entre si de forma dinâmica. O signo a e a’ guardam entre si uma relação “complementar e inversa”. Estrutura = Signo (a) + Signo (a’) 2.8- CLASSES E COMUTAÇÃO. São conjuntos de dados inter-relacionados. Conjuntos de objetos, indivíduos, sinais, etc, determinado de características em comum. a) Relato Fatual Û Vivência afetiva. b) Relação Objetal Û Angústia. c) Significante Û Significado. d) Manifesto Û Latente. e) Signos/Sinais Û Mensagens/ Sintomas. f) Pré-consciente/ Consciente Û Inconsciente. O conhecido conceito psicanalítico da “transferência”, como a repetição de uma relação do passado no presente, encontra respaldo no conceito semiológico da “comutação”. O processo semiótico teria continuidade por comutações, isto é, por substituições de fatos concretos iniciais por outros, por meio dos quais o ego observará se a relação inicial se mantém ou não, para confirmar ou invalidar a hipótese semiótica que ordena os universos em classes. Com a comutação/transferência, podemos considerar o nascimento (perda da relação objetal continente) como fato inicial de referência para todas as vivências desencadeantes de desprazer/dor (angústia aniquiladora). 2.9- MENSAGEM. É a comunicação, notícia ou recado, verbal ou escrito. 2.10- SINTOMAS. É uma sensação subjetiva, anormal sentida pelo paciente e não visualizada pelo examinador. Ex.: dor, má digestão, tontura. 2.11- SINAL. É uma evidência objetiva ou manifestação física de uma doença. É um dado objetivo que pode ser notado pelo examinador através da inspeção, palpação ou ausculta. 2.12- SÍNDROME. São grupos de sinais e sintomas que considerados em conjunto caracterizam uma moléstia ou lesão. 2.13- TRANSTORNO. Desarranjo, desordem, ligeira perturbação de saúde. Termo usado em psiquiatria em lugar de doença ou de outro vocabulário similar, a fim de causar impacto psicológico menor no doente, ou em quem o acompanha. 2.14- POSIÇÃO RECALCADORA E SEU SISTEMA OBJETAL. Uma ação fundamental do paciente, ou seja, qual a sua posição atuante manifesta básica. a) Posição Ativa Û Posição Passiva. b) Sedutor Û Seduzido. c) Desorganizador Û Desorganizado. d) Fazendo Medo Û Assustado. e) Enfurecedor Û Enfurecido. f) Abandonar Û Abandonado. g) Invejar Û Invejado. h) Amar Û Amado. i) Odiar Û Odiado. j) Temer Û Temido. Desta ação se deduz a posição “complementar e inversa” que caracteriza a posição recalcada, porque contém a projeção de seu ego sofredor que, no caso de ela se tornar consciente ao ser reintrojetada, aumentaria sua angústia, ou seja, lhe proporcionaria desprazer. A posição básica e seu complemento invertido e então inverter tais posições, é o que consideramos mais eficaz na prática, mas sua aplicação ao pé da letra não é indispensável. 3- ORIGEM DA SEMIÓTICA. A Semiótica é uma ciência recente. Embora o projeto de construir uma "ciência dos signos" existisse desde os princípios do século XX, em Saussure e Peirce, pode dizer-se que o aparecimento efetivo dessa ciência se verifica apenas nos meados do século XX. No entanto, o estudo dos signos remonta às próprias origens do pensamento filosófico. Assim, Todorov, que considera Stº Agostinho o primeiro dos semióticos, situa as origens da Semiótica ocidental nas "tradições particulares" da semântica, da lógica, da retórica e da hermenêutica antigas, sendo o Crátilo de Platão, que viveu nos séculos V/IV AC, o melhor testemunho dessa antiguidade da Semiótica. A consideração de Stº Agostinho como primeiro semiótico explica-se pelo fato de, segundo Todorov, ter sido aquele Padre da Igreja o primeiro a satisfazer os dois requisitos fundamentais implicados na noção de semiótica: ter como objetivo o conhecimento, a teoria; ter como objeto de estudo signos de espécies diferentes, e não exclusivamente os lingüísticos. A Semiótica do século XX vai demarcar-se claramente dos estudos filosóficos dos signos em dois aspectos fundamentais: a) Na definição do estatuto epistemológico dos estudos semióticos, do lugar destes no contexto mais geral dos estudos científicos. Esta preocupação é visível quer em Saussure (que enquadra a Semiologia, enquanto teoria geral dos signos, na Psicologia Social e esta, por sua vez, na Psicologia Geral, considerando, por outro lado, a Lingüística como parte da Semiologia), quer em Peirce (para quem a Semiótica, enquanto ciência dos signos, é uma ciência geral, uma espécie de "matemática universal" que engloba todas as outras ciências). b) Na sistematização da semiótica, com a sua conseqüente subdivisão em disciplinas (nomeadamente, e a partir de Charles Morris, em Sintaxe, Semântica e Pragmática) e a sua compendiação escolar. A moderna "ciência dos signos" tem origem em duas diferentes tradições, que podemos sintetizar em dois nomes: Semiologia (correspondente à tradição européia, iniciada por Saussure) e Semiótica (correspondente à tradição anglo-saxônica, iniciada por Peirce). Tendo o mesmo o radical (semeion, que se pode traduzir por "signo" ou "sinal"), as duas palavras traduzem, no entanto, duas maneiras diferentes de entender a "ciência dos signos". A Semiologia aparece definida por Saussure, no Curso de Lingüística Geral (editado pela primeira vez em 1915), da seguinte forma: "Pode, portanto conceber-se uma ciência que estuda a vida dos signos no seio da vida social; ela constituiria uma parte da psicologia social e, por conseguinte, da psicologia geral; nós chamá-la-emos semiologia (do grego semeion, signo). Ela ensinar-nos-ia em que consistem os signos, que leis os regem. (...) A lingüística não é senão uma parte desta ciência geral (...)”. 4- SEMIOLOGIA PSICANALÍTICA – FRAGMENTOS. O universo significado e o universo significante devem ser radicalmente heterogêneos para que possam funcionar como tais. De acordo com esse princípio, as hipóteses kleinianas sobre o narcisismo secundário e a formação dos símbolos, supõem uma relação biuniversal sistemática do universo significante, com o universo das angústias, que esse mesmo ego experimente como universo significado. O universo das relações objetais se organiza em classes graças a essa relação biuniversal que ele mantém com o universo das angústias, e que isso ocorre devido ao fato de essas últimas representarem a transformação mais frequente que os afetos sofrem em virtude da repressão das representações desprazerosas que daí resultam. O “signo” formado por uma classe de relações objetais como significante e por uma classe da angúsitas como significado coicide com o conceito de “misto de representação e de afeto” de André Gree, que, por sua vez, se apóia em uma tese mais geral segundo a qual “os afetos também têm, como objetos externos, sua representação psíquica”. No sentido econômico é o afeto que deve ser tornado inconsciente, e que no sentido tópico e sistemático é a representação. “O afeto reprimido é tornado inconsciente”, sustenta Gree, apoiando-se na afirmação clara e decisiva de Freud, segundo a qual, “a representação do desenvolvimento do afeto constitui a finalidade específica do recalque e o trabalho deste permanece incompleto enquanto a finalidade específica não é atingida”. Uma vez que o ego-prazer formou suas classes de afetos e de representações, tenderá a recalcar no inconsciente a classe significante das representações hostis, para reprimir, sempre no inconsciente, a percepção da mensagem afetiva desprazerosa concreta. Na medida em que estabeleceremos a equivalência entre “representação” – seja afetiva, seja objetal- e “classe” de afetos ou de relações objetais, estabeleceremos também a equivalência que existe entre capacidade do ego para “representar” (Freud) ou “simbolizar” (Klein) e capacidade de classificar tanto suas relações objetais com referência à classificação de suas relações objetais. Em consequência, as dificuldades de “simbolização” se reduzirão a dificuldades de classificação dos objetos devidas a um déficit na pertinentização afetiva desses últimos: o ego classifica seus objetos atuais em função de suas classes de afetos arcaicos e narcísicos. A inclusão sistemática dos afetos experimentados pelo usuário ou interpretante dos signos, quando adota uma atitude semiótica, constitui uma das contribuições mais notáveis com que a psicanálise pode, por sua vez, enriquecer a semiologia. O análogo que poderíamos depreender da teoria da técnica psicanalítica residiria na inclusão sistemática dos afetos experimentados pelo analista na contratransferência, quando utiliza seu conhecimento da classe desses afetos a título de instrumento de primeira importância para discriminar a classe de relações objetais em questão na tranferência de seu analisando. Uma das noções teóricas fundamentais do edifício kleiniano, como a posição esquizo-paranóide, faz alusão, em sua própria denominação, a essa biuniversalidade semiótica. É com efeito a emergência da ansiedade paranóide no universo dos afetos experimentados pelo ego que obriga este, como medida defensiva, a recortar de maneira esquizóide, no universo de suas relações objetais, uma classe de objetos parciais idealizados e uma classe complementar de objetos parciais persecutórios. Dentro dessa perspectiva, a relação psicanalítica clássica entre o s´mbolo e o simbolizado não é mais uniuniversal, como faz supor a idéia de que o símbolo é uma relação objetal atual e o simbolizado uma relação objetal arcaica. Assim a concepção clássica quer, por exemplo, que o analista na transferência seja um “símbolo”, produto de um “deslocamento” da imagem paterna, que seria seu “simbolizado”; ou quer que um guarda-chuva seja um “símbolo”, produto de um “simbolismo” do pênis paterno, que seria seu “simbolizado”. Ao contrário, essas relações em sua biuniversalidade, tanto o analista quanto o pai e tanto o guarda-chuva quanto o pênis são símbolos (ou sinais), pois pertencem à mesma classe (significante) de relações objetais, de uma vez que despertam no paciete a mesma classe (significada) de afetos. Analista e pai, guarda-chuva e pênis são “a mesma coisa” para o ego, porque para ele “simbolizam” (significam) o mesmo afeto (ou mensagem). 4.1- EVOLUÇÃO PSICOEMOCIONAL. A evolução psicoemocional do indivíduo começa com sua concepção e principalmente na gestação em seu ambiente intra-uterino. Na situação intra-uterina, o que é externo é desprazeroso e o que é interno é prazeroso. Depois do nascimento, quando a criança tem fome e necessidade do mundo externo, o que é externo transformou-se em prazeroso e o que é interno em desprazeroso. Para M.Klein, o nascimento constitui-se na primeira causa externa de angústia. Para Freud, no homem, o nascimento proporciona uma experiência prototípica desse tipo, e ficamos inclinados, portanto, a considerar os estados de ansiedade como uma reprodução do trauma do nascimento. Segundo Bion o ambiente intra-uterino vai caracterizar uma relação de “continente” e ausência de desprazer ou “angústia não aniquiladora”, que é a angústia que o ego é capaz de suportar. Este seria o referencial de busca do indivíduo durante toda a vida, o retorno ao ambiente ideal, “continente de angústia não aniquiladora”, ou o “nirvana”. A experiência do nascimento transmuta esta situação para uma relação “não continente” e com aparecimento do desprazer ou “angústia aniquiladora”, que é a angústia que o ego não é capaz de suportar. Logo, o objetivo do ego seria de afastar-se da “angústia aniquiladora” e procurar por relações continentes (nirvana). As situações criadas são complementares e inversas. 5- SEMIOLOGIA PSIQUIÁTRICA. A semiologia médica se preocupa com a descrição dos diferentes sintomas, sinais e a caracterização de uma determinada doença (síndromes). A coleta de sinais e sintomas são realizados por procedimentos semiotécnico através da anamnese, do exame físico que dará um diagnóstico clínico através do CID-10, que é o Código Internacional de Doenças que foi elaborado pela Organização Mundial da Saúde e abrange todo o espectro de doenças humanas. A semiologia psiquiátrica utiliza além do CID-10 o DSM IV (94) que é o manual diagnóstico e estatístico dos transtornos mental, elaborado pela Sociedade Americana de Psiquiatria, que sistematiza os sintomas e sinais em quadros de critérios, que possibilitam então o diagnóstico psiquiátrico, que se estrutura a partir de diferentes eixos diagnósticos. a)Eixo I- Transtornos Clínicos : outras condições que podem ser um foco de atenção clínica. b)Eixo II- Transtornos da Personalidade e Retardo Mental. c)Eixo III- Condições Médicas Gerais. d)Eixo IV- Problemas Psicossociais e Ambientais: Problemas com: o grupo de apoio primário; relacionados ao ambiente social; educacionais; ocupacionais; moradia; econômicos; com acesso aos serviços de cuidados à saúde; relacionados à internação com o sistema legal/criminal; psicossociais e ambientais. e)Eixo V- Avaliação Global do Funcionamento. É uma escala de Avaliação Global do Funcionamento (AGF) com pontuação de 1 a 100, sendo que entre 100 e 50 geralmente estão as neuroses e de 50 a 0 estão as psicoses. Vejamos abaixo alguns exemplos: 100: Funcionamento superior. Problemas de vida jamais vistos fora de seu controle. 91 : Ex: Não apresenta sintomas. 90 : Em geral satisfeito com a vida.Sintomas ausentes ou mínimos. 81 : Ex: Discussão ocasional com membros da família. 80 : Se sintomas estão presentes, eles são temporários. 71 : Ex: Apresenta declínio temporário na escola. 70 : Alguma dificuldade no funcionamento social, porém geralmente funcionando muito bem. 61 : Ex: Possui alguns relacionamentos interpessoais significativos. 60 : Dificuldade moderada no funcionamento social. Apresenta sintomas moderados 51 : Ex: Tem poucos amigos e apresenta conflitos com colegas de trabalho. 50 : Sintomas sérios. Ideação suicida, rituais obsessivos graves, freqüentes furtos em lojas. 41 : Ex: Nenhum amigo, incapaz de manter um emprego. 40 : Prejuízo no teste da realidade ou baixa comunicação. 31 : Ex: Negligência com a família, incapaz de trabalhar. 30 : Comportamento influenciado por alucinações. 21 : Ex: Permanece na cama o dia inteiro, sem emprego, casa ou amigos. 20 : Perigo de ferir a si mesmo ou a outros. Freqüentemente suja-se de fezes. 11 : Ex: Prejuízo grosseiro na comunicação e incoerente com o mundo. 10 : Perigo de ferir-se gravemente ou a outros. Violência recorrente. 01 : Atos suicidas com clara expectativa de morte. 00 : Informações totalmente inadequadas. A psiquiatria baseada nos conceitos psicanalíticos foi denominada “psiquiatria dinâmica” pela escola de Menninger e atualmente Gabbard, considerando as personalidades Histéricas e Histriônicas. A Histeria não consta mais como diagnóstico psiquiátrico conforme é apresentado no DMS-IV. O transtorno de personalidade histérica segundo o DSM-IV (Histérica e Histriônica) tem um padrão generalizado de excessiva emocionalidade e busca de atenção. O Histérico sente desconforto em situações nas quais não é o centro das atenções; a interação com os outros freqüentemente se caracteriza por um comportamento inadequado, sexualmente provocante ou sedutor; exibe mudança rápida e superficialidade na expressão das emoções; usa consistentemente a aparência física para chamar a atenção sobre si próprio; tem um estilo de discurso excessivamente impressionista e carente de detalhes; apresenta autodramatização, teatralidade e expressão emocional exagerada; é sugestionável, ou seja, é facilmente influenciado pelos outros ou pelas circunstâncias; considera os relacionamentos mais íntimos do que realmente são. O que parece ligar as pessoas histéricas e histriônicas é uma superposição de características comportamentais manifestas, tais como emocionalidade lábil e superficial, busca de atenção, funcionamento sexual perturbado, dependência e desamparo e autodramatização. A personalidade histriônica é mais florida que a histérica praticamente em todos os aspectos. A causa básica está ligada às vivências edipianas mais freqüentemente nos pacientes histéricos e que regressões mais arcaicas – orais – estão presentes nos casos histriônicos. O paciente histérico verdadeiro conseguiu atingir relações maduras com um objeto interno, caracterizado por temas edipianos triangulares e foi capaz de formar relacionamentos significativos com ambos os genitores, o paciente histriônico encontra-se fixado a um nível diádico mais primitivo de relações objetais, muitas vezes caracterizado por apego, masoquismo e paranóia. 5.1- ALGUNS MECANISMOS DE DEFESA. A repressão ou recalque é um mecanismo básico no qual o indivíduo retira da consciência as pressões pulsionais, mantendo-as afastadas do ego. Freud escreveu que a vantagem disso é que a idéia incompatível é recalcada para fora do ego consciente. A identificação pode se fazer com o genitor do mesmo sexo ou seu representante simbólico, na ânsia de derrota-lo na luta competitiva pelo amor do progenitor do sexo oposto. A identificação também pode ser com o progenitor do sexo oposto ou com seu representante simbólico. Tal ocorre quando o paciente sente que tem pouca probabilidade de êxito na competição edípica. A conversão caracteriza a Histeria de Conversão, onde os pacientes histéricos manifestam impulsos e afetos reprimidos, através de sintomas somáticos. A conversão não é simplesmente manifestação somática de afeto, mas representação específica de fantasias que podem ser novamente traduzidas na linguagem somática para sua linguagem original. A regressão possibilita a fuga de uma vivência incestuosa atual. Pela regressão o paciente retoma uma fase anterior destituída do risco incestuoso edipiano. Na negação os pacientes se defendem do sofrimento envolvido nas emoções e desejos dolorosos que vivenciam, não entendendo o resultado de seu comportamento sedutor sobre as pessoas de seu relacionamento. 6- FERDINAND DE SAUSSURE. Ferdinand Saussure (1857-1913) foi o fundador da lingüística moderna, cujos princípios básicos influenciaram profundamente o desenvolvimento do estruturalismo semiótico. Sua maior contribuição foi o projeto de uma teoria geral de sistema de signos, a que ele denominou Semiologia, e seu elemento básico foi à definição do signo. Outros princípios importantes de sua teoria foram a arbitrariedade do signo lingüístico, o conceito de estrutura, o conceito de sistema de linguagem. A Semiótica Européia, em um de seus expoentes mais fortes, está fundamentada a partir do livro "Tratado de Lingüística Geral", de Ferdinand de Saussure. Esse livro deu margem à criação de várias correntes de pensamento, como o estruturalismo e constituiu-se como ponto de partida para a Semiologia desenvolvida por Rolland Barthes. Em relação aos determinantes teóricos da Semiologia, diferentemente de Peirce, que estabelece uma relação sígnica entre signo, objeto e interpretante, na corrente iniciada por Saussure são vistos o signo, o significado e o significante. O signo, numa definição mais básica, é qualquer coisa que substitua outra. Deste modo podemos imaginar um homem primitivo que desenhou um animal numa caverna representando o animal que havia caçado, por exemplo. O desenho do animal é o signo que representa o conteúdo que o homem primitivo quis expressar. Este homem, para representar o animal, uniu um conceito a uma imagem, ou seja, estabeleceu uma relação entre um significado e um significante. Saussure estipula o significante como uma imagem acústica, que se constitui como a representação natural da palavra enquanto fato de língua virtual, ou a representação psíquica desse som. Passando para outros moldes além do verbal, o significante seria uma imagem que afetasse a mente de uma pessoa. Saussure estipula duas características primordiais do Signo: a) O Signo é arbitrário: Isso quer dizer que não há um laço natural entre o significante e o significado. Por exemplo, lua em Inglês é moon, enquanto em é italiano é luna. Com essa inferência Saussure distingue um signo de um símbolo; um símbolo teria uma relação com o objeto representado. Como exemplo, pode-se dizer que a cruz evoca muita coisa para um cristão, enquanto a suástica a um nazista ou a um judeu. O símbolo da justiça, a balança, não poderia ser substituído por um objeto qualquer, um carro, por exemplo. b) Caráter Linear do Significante: O significante, de natureza auditiva, desenvolve-se no tempo, unicamente, e tem as características que toma do tempo em determinada cultura. Com a constituição da linguagem verbal, existiriam relações sintagmáticas e relações associativas. As relações sintagmáticas estariam baseadas no caráter linear da língua, que exclui a possibilidade de pronunciar dois elementos ao mesmo tempo. Estes se aliam um após o outro na cadeia da fala, e tais combinações podem ser chamadas de sintagmas. Por exemplo, re-ler, contra-todos, a vida humana, etc. Uma relação associativa possuiria sua dinâmica fora do discurso, onde as componentes de determinada sentença se associam na memória e assim se formam grupos dentro dos quais imperam relações muito diversas. Por exemplo, a palavra super-homem pode evocar em determinada mente palavras como superfície, supérfluo, homem rico, poder, etc. 6.1- O PROJETO SEMIOLÓGICO DE SAUSSURE. Inicialmente, a semiologia seria o projeto de uma ciência geral dos sistemas sígnicos. Saussure assim o definiu: Pode-se, então, conceber uma ciência que estude a vida dos signos no seio da vida social; ela constituiria uma parte da Psicologia social e, por conseguinte, da Psicologia geral. Chamá-la-emos de Semiologia (do grego smeion, signo). Ela nos ensinará em que consistem os signos, que leis os regem. Como tal ciência não existe ainda, não se pode dizer o que ela será; ela tem direito, porém, à existência; seu lugar está determinado de antemão. A Lingüística não é senão uma parte dessa ciência geral; as leis que a Semiologia descobrir serão aplicáveis à lingüística e esta se achará vinculada a um domínio bem definido no conjunto dos fatos humanos). Portanto, para Saussure, Semiologia e Lingüística estariam no âmbito da Psicologia geral. A segunda noção relevante é a relação entre a lingüística e a semiologia. Segundo a visão saussureana, as ciências da linguagem fazem parte da semiologia, e as leis gerais da ciência dos signos são aplicáveis à lingüística. Como o estudioso suíço desconhecia a tradição dos estudos sígnicos desde Platão a Peirce, para ele a semiologia ainda não existia e necessitava, antes de tudo, ser construída. Segundo ele, a lingüística já estaria bastante desenvolvida, e suas bases emprestariam suporte para a elaboração da teoria geral dos signos. Assim, via ele uma relação em mão dupla: a lingüística seria o caminho heurístico da produção da semiologia cujas regras seriam aplicáveis inclusive aos estudos lingüísticos. Este caminho foi seguido na França e na Itália, na semiótica estruturalista dos anos 60. Saussure fazia freqüentemente comentários sobre o conjunto dos fatos semiológicos sem, contudo, apresentar qualquer detalhamento da maioria desses sistemas de signos.O pesquisador tinha a língua como o principal dos sistemas sígnicos e mencionou outros sistemas como o Braille, o código de bandeiras marítimo, sinais militares de corneta, códigos cifrados (ex. música), etc. Somente no campo da literatura Saussure empreendeu estudos mais extensos de sistemas sígnicos não-verbais. Por exemplo, um estudo mitológico sobre a lenda germânica Niberlungen, que é descrita como um sistema de símbolos que estão inconscientemente sujeitos às mesmas variações que qualquer outra série de símbolos, bem como as palavras da língua. Também nos a anagramas da poesia latina, Saussure se destacou no âmbito da semiologia. Em determinado ponto das discussões teóricas, a semiologia saussureana ficou inscrita no âmbito da sociologia e da psicologia (1901). O que mais ressaltou este enquadramento foi a menção feita por Saussure à aplicação da semiologia ao estudo das instituições jurídicas. Ainda que o próprio Saussure tivesse a lingüística como parte da semiótica, estudos posteriores conseguiram provocar sérios equívocos que se tornaram polêmicas até hoje não sanadas no que tange à posição dessas duas ciências: a semiótica contém a semiologia ou vice-versa? Convém, no entanto, buscarmos entender as contribuições fundamentais do patrono da lingüística na formulação de uma teoria geral dos signos. a) A arbitrariedade do signo lingüístico em relação a sua constituição fonológica, do que decorre o princípio suplementar da convencionalidade. b) A não-arbitrariedade a posterior, uma vez que ao falante não é facultado eleger signo diferente do convencionado quando estabelece a comunicação com outrem, disto decorre o princípio suplementar da imutabilidade do signo. c) A imotivação dos signos quanto ao seu significado. O princípio do binarismo: significado & significante. As flechas indicam a associação psíquica entre a imagem acústica e o conceito. Assim, os três termos do modelo diádico de Saussure são: Signo = significante significado Sua concepção é mentalista, pois ambos os compósitos sígnicos são entidades mentais. Daí a exclusão da referência, pois, além de ser seu modelo diádico, rejeita o pesquisador a união entre uma coisa e uma palavra, portanto, repele o objeto de referência, que seria algo externo ao sistema considerado. A partir dessas idéias, Saussure atrela o pensamento às palavras, sem as quais aquele seria uma massa amorfa e indistinta. Assim, cria Saussure as bases para a teoria das formas, não das substâncias, a partir do que, mais tarde vem a configurara-se com Hjelmslev na formulação do Estruturalismo lingüístico. A partir de suas noção de forma, emergiram as idéias das redes de relações sígnicas que se sustentam em dois eixos fundamentais: as correlações e as oposições. A língua é um sistema em que todos os termos são solidários, e o valor de um resulta tão-somente da presença simultânea de outros. Seu conteúdo só é verdadeiramente determinado pelo concurso do que existe fora dela. Fazendo parte de um sistema, está revestida não só de uma significação como também de um valor. 7-CHARLES SANDERS PEIRCE. Um dos principais estudiosos contemporâneos dos Signos e da semiótica americana tem seu expoente inicial com o cientista-lógico-filósofo (e um dos fundadores da moderna ciência semiótica) foi Charles Sanders Peirce (1830-1914). Considerado por alguns como sendo, porventura, o maior filósofo norte-americano, Peirce teve uma vida afetiva, profissional e acadêmica bastante conturbada e infeliz. Muitas das teorias mais interessantes de Peirce, nomeadamente no âmbito da Semiótica ou Lógica, foram pouco conhecidas, até pouco tempo. À medida que essas teorias forma sendo estudadas, Peirce foi ganhando uma importância crescente no campo da Semiótica, da Lógica e da Filosofia em geral. Peirce, filho de um importante matemático, era devotado nas ciências culturais à lingüística, à história e à filologia, e tinha grande conhecimento da Crítica a Razão Pura, de Kant. Em matéria de obras científico-filosófiicas, a única publicada em vida, por Peirce, foi Photometric Researches, de 1879, resultado do seu trabalho nos domínios da geodesia e da astronomia. Deixou um segundo livro terminado, The Grand Logic, e publicou vários artigos, sobretudo nas revistas Popular Science Monthly (1877-1878) e The Monist (1891-1893). No entanto, a maior parte dos seus trabalhos inéditos, reunidos nos Collected Papers (em 9 volumes), só foi publicada entre 1931 e 1958. Baseado, a princípio, com as categorias universais de Kant, e constatando mais tarde alguma semelhança também com Hegel, Peirce estipulou três categorias universais, começando a aplicá-las inicialmente à mente, e logo após á natureza. São estas categorias a de primeiridade, secundidade e terceiridade. "As definições de 'signo' que circulam nos manuais de semiótica corrente são diversas mas não contraditórias e são muitas vezes complementares. Para Peirce, o signo era "algo que está para alguém por algo sob algum aspecto ou capacidade". Enquanto Saussure circunscreveu a semiologia no âmbito da Psicologia, Peirce foi buscar suas bases na Filosofia e na Lógica. Por isso, com a mesma força que o suíço rejeitara a relação com entes objetivos externos ao sistema de signos em questão (no seu caso o lingüístico), o semioticista norte-americano enfatizara as suas bases doutrinárias numa concepção fenomenológica, portanto filosófica. Assim, retomava o terceiro elemento já previsto na teoria formulada por Platão (nome = nomos /noção = logos /coisa = pragma) como base indispensável do diálogo entre o homem e o mundo que o cerca. Para Peirce, o universo é semiótico, e o homem interage com os sinais, lendo os que o antecedem e formulando novos sinais em suprimento das necessidades emergentes. A visão pansemiótica de Peirce sobre o universo resultara no entendimento das cognições, das idéias e até do homem como entidades semióticas; e, como tal, um signo se refere a outras idéias e a outros objetos do mundo que se reflete um passado. Suas idéias projetam uma dimensão muito mais ampla. O homem denota qualquer objeto de sua atenção num momento dado. Conota o que conhece ou sente sobre o objeto e é também a encarnação desta forma ou espécie inteligível; o seu interpretante é a memória futura dessa cognição, o seu eu futuro ou uma outra pessoa à qual se dirige, ou uma frase que escreve, ou um filho que tem. Peirce retomou a teoria estóica do significado, em termos que lhe deram direito de cidadania na lógica moderna. As concepções semióticas de Peirce demonstraram ser fecundas na lógica e na semiótica contemporâneas, do mesmo modo que se tornaram fecundas as múltiplas distinções e classificações de signos que ele forneceu nos seus escritos. Para Peirce, Lógica e Semiótica identificam-se: Em seu sentido geral, a lógica é, como acredito ter mostrado, apenas um outro nome para semiótica, a quase-necessária, ou formal, doutrina dos signos. A Semiótica é quase-necessária ou formal no sentido em que, segundo Peirce, procede por observação abstrativas, partindo dos signos particulares do que os signos "são", para as afirmações gerais o que os signos devem ser. A Semiótica tem três ramos: a) Gramática Pura - a sua tarefa é determinar o que deve ser verdadeiro quanto ao representamen utilizado por toda a inteligência científica a fim de que possa incorporar um significado qualquer. É a teoria geral da relação de representação e dos vários tipos de signos. b) Lógica Pura ou Crítica - ciência do que é quase necessariamente verdadeiro em relação aos representamen de toda a inteligência científica a fim de que possam aplicar-se a qualquer objeto, isto é, a fim de que possam ser verdadeiros. Ciência formal da verdade das representações. Compreende a teoria unificada da dedução, da indução e da retrodução - inferência hipotética ou abdução. c) Retórica Pura ou Especulativa - o seu objetivo é o de determinar as leis pelas quais, em toda a inteligência científica, um signo dá origem a outro signo e, especialmente, um signo acarreta outro. Refere-se à eficácia da semiose. Esta tripartição da Semiótica viria a ser retomada por Charles Morris em 1938 que substitui as designações de Peirce pelas de Sintaxe (que trata da relação formal dos signos uns com os outros), Semântica (que trata da relação entre os signos e os objetos a que se aplicam) e Pragmática (que trata da relação entre os signos e os intérpretes). Como sabemos, Sintaxe, Semântica e Pragmática constituem, hoje em dia, os três grandes domínios da Semiótica. Peirce distingue, ainda, entre Semiótica geral e "ciências psíquicas" a que, mais propriamente, poderíamos chamar "ciências semióticas", em que inclui as ciências psicológicas e sociais, a lingüística, a história, a estética, etc. 7.1-PRIMEIRIDADE, SECUNDIDADE E TERCEIRIDADE. A primeiridade (a primeira das três categorias universais) consiste, por exemplo, na presença de imagens diretamente à consciência, sem uma consciência propriamente dita. A primeiridade: categoria do sentimento imediato e presente das coisas, numa relação sensível, sem relação com outros fenômenos do mundo, onde se vê aquilo tal como é por exemplo uma Flor palavra da língua. O caráter de secundidade já redunda em "conflito". Não é o não analisável da primeiridade, mas necessita dela para existir. É o mundo do pensamento, sem, no entanto, a mediação de signos. O aspecto segundo representa uma consciência reagindo ante o mundo, em relação dialética; uma relação dual. Secundidade: relação entre um fenômeno primeiro e um segundo fenômeno qualquer. É a categoria da comparação, por exemplo, uma Flor é o nome genérico para rosas, margaridas, etc. A terceiridade contem as duas últimas citadas, no nível do pensamento a terceiridade corresponderia ao nível simbólico, sígnico, onde representamos e interpretamos o mundo. Não é um caráter passivo, primeiro, mas a união deste com o segundo, acrescentando um fator cognitivo. Na terceiridade é posto uma camada interpretativa entre a consciência (segundo) e o que é percebido (primeiro). Nesse caráter fenomenológico Peirce começou a esquadrinhar seu sistema filosófico. A terceiridade é a categoria que relaciona um fenômeno a um terceiro termo, gerando assim a representação, a semiose, os signos em si. Por exemplo, uma Flor pode representar a mocidade; a pureza, a candura, além do próprio tipo vegetal. Para esclarecer a definição de signo, Peirce estabeleceu o conceito de relação sígnica. Toda relação sígnica envolve o signo propriamente dito, o objeto e seu interpretante. A noção de interpretante não se define na de intérprete do signo, mas através da relação que o signo mantém com o objeto. A partir dessa relação, produz-se na mente interpretadora um outro signo que traduz o significado do primeiro (que é o interpretante do primeiro). Por exemplo, a palavra "casa" é um signo interpretante do signo casa estabelecido unicamente em cada subjetividade. Dessa forma, o significado de um signo é sempre outro signo, e assim por diante. Tendo suas categorias e a noção de signo, Peirce estabeleceu uma rede de classificações sempre triádicas dos tipos possíveis de signo, tomando como base às relações que se apresenta o signo. A relação mais elementar entre essas tríades se dá tomando-se a relação do signo consigo mesmo (primeiridade), com seu objeto dinâmico (secundidade) e com seu interpretante (terceiridade): O Signo 1º em si mesmo (1º Quali-signo, Sin-signo, Legi-signo). O Signo 2º com seu objeto. 2º Ícone, Índice, Símbolo. O Signo 3º com seu interpretante (Rema, Dicente, Argumento). Ao pegar-se um signo com seu objeto, em aspecto icônico, temos por correspondentes em primeiridade um Quali-signo e uma rema. Por primeiridade ser a pura qualidade, é passível a várias "interpretações". Não chega a um signo restrito. Partindo novamente da relação do signo com seu objeto, agora em caráter de secundidade encontra-se o índice. Aqui, o signo permanece bem mais restrito e concreto, pois "indica". Um exemplo disso seria o ponteiro da gasolina no carro, que indica o quanto aproximado há de combustível no veículo. Em terceiridade, ao ter-se o símbolo como ponto de partida, vê-se, no signo em si mesmo, um caráter de lei. Nesse aspecto podem ser encontrados os códigos (não especialmente um código genético, por exemplo, mas explicitamente a linguagem como código criado na esfera humana). Na forma expressa acima, percebe-se que o terceiro sempre precisa do primeiro e do segundo para sua existência, pois se assim não fosse, não teria seu caráter designativo ou qualitativo numa lei, ou num processo superior humano. Peirce, com suas tríades criou miríades de associações, sendo esta, um dos pontos fundamentais de sua teoria. Assim, a base geral do signo é a relação entre estes três elementos, a partir dos quais é possível entender a semiose ou o processo de produção de significados e sentidos. A teoria da iconicidade nos diz que qualquer coisa é capaz de ser um substituto para qualquer coisa com a qual se assemelhe e a relacionamos com a teoria do interpretante que é a formulação de um Supersigno ou Supercódigo que orienta a "tradução" ou decifração dos possíveis conteúdos de um dado signo sensível. Como é possível perceber, a teoria de Peirce contempla as relações entre homem e mudo, assim como decifra em graus o diálogo entre o homem e os fenômenos que o tocam, a partir do que a mediação dos sentidos humanos é considerada em sua amplitude enquanto antena de captação dos sinais do universo articulado com a experiência humana. O modelo triádico de Peirce que viabilizou a classificação dos sinais em ícones, índices e signos, estendeu a discussão da atuação subjetiva sobre a decifração sígnica, assim como permitiu a dedução de valores extra-sígnicos que compõem a rede de relações sobre as quais opera a semiose. Além disso, ressaltou o caráter dinâmico das linguagens, apontando para a teoria da semiose ilimitada que veio a subsidiar explicações mais consistentes para a produção artísticas a partir do confronto entre objeto artístico e objeto seriado. Para Peirce, as formas sígnicas são passíveis de serem construídas a despeito de existirem ou não no mundo real, por isso, a existência material de sinais não aprisiona a produção cognitiva. Das contribuições deixadas por Saussure, verifica-se sua maior importância no âmbito da descrição lingüística, portanto, como base fundamental para a análise literária, inclusive. Quanto ao legado de Peirce, pode-se dizer que tenha aberto os horizontes dos estudos sígnicos no sentido de demonstrar as relações intersistêmicas, por meio do que são sustentáveis os enfoques interdisciplinares e intertextuais tão em voga na atualidade. Originalmente semiótica e semiologia eram a mesma coisa, a escola francesa gerou uma outra modalidade de estudo que seria mais bem denominada como semiologia ou uma semiótica lingüística e a semiótica de Peirce transcende o estudo do signo lingüístico, portanto, seria uma ciência continente para os estudos do signo verbal. A categorização triádica e fenomenológica da teoria de Peirce favorecem a ampliação de uma metodologia de ensino de línguas que contemple mais adequadamente o desenvolvimento das destrezas lingüísticas: ouvir, falar, ler e escrever. 7.2-PRAGMATISMO E ABDUÇÃO. Charles Sanders Peirce consta, nas Histórias da Filosofia, como um dos fundadores do pragmatismo. O pragmatismo é a forma que foi assumida, na filosofia contemporânea, pela tradição clássica do empirismo inglês o pragmatismo constitui a primeira contribuição original dos Estados Unidos da América para a filosofia ocidental. Enquanto o empirismo clássico entende "experiência" como experiência passada, o pragmatismo entende a experiência como abertura para o futuro, a possibilidade de fundamentar a previsão: uma verdade é-o não em confronto com uma experiência passada, mas em relação com o seu possível uso futuro. A previsão desse possível uso futuro dos limites, condições e efeitos é o significado dessa verdade. A tese fundamental do pragmatismo é a de toda a verdade é uma regra de ação, uma norma para a conduta futura, entendendo-se por "ação" e por "conduta futura" toda a espécie ou forma de atividade, quer seja cognoscitiva quer seja emotiva. A crítica central de Peirce ao método cartesiano reside na tese de que não é possível distinguir entre uma idéia que apenas parece clara e distinta e outra que o é efetivamente. Peirce observa que o mecanismo da mente só pode transformar conhecimento, mas nunca originá-lo, a menos que alimentado com fatos de observação. Como podemos, então, estar seguros da clareza de uma idéia? Para responder a esta questão, Peirce avança a sua concepção do pensamento como "engenharia". O pensamento é comparado, por Peirce, à "linha de uma melodia através da sucessão das nossas sensações": enquanto os sons são o imediatamente percebido, o pensamento é uma sucessão ordenada de idéias, mediada por essas sensações e orientada para uma certa função. Essa função é a produção de uma crença. A crença tem três propriedades, segundo Peirce: é algo de que nos damos conta; sossega a irritação do pensamento provocada pela dúvida; implica a determinação, na nossa natureza, de uma regra de ação ou hábito. Por hábito deve entender-se, aqui, o conjunto de ações, tanto reais como possíveis, que se baseiam numa crença. No entanto, a ação com base numa determinada crença produz uma nova dúvida, e este novo pensamento; assim, a crença, sendo lugar de paragem, é também lugar de recomeço para o pensamento. Sendo a essência da crença a produção de um hábito, as diferentes crenças distinguem-se pelos diferentes modos de ação a que dão origem. Parafraseando um exemplo de Fidalgo, se eu acreditar que um objeto é um garfo, então servir-me-ei dele para levar à boca alimentos sólidos; mas, se for chinês, por exemplo, e acreditar que se trata de um ancinho, utilizá-lo-ei para tratar das flores. Portanto, e ao contrário do que pretendia Descartes, a "clareza das idéias" não resulta das idéias inatas, mas da aplicação de uma máxima pragmatista, que Peirce considera quais os efeitos, que podem ter certos aspectos práticos, que concebemos que o objeto da nossa concepção tem. A nossa concepção dos seus efeitos constitui a nossa concepção do objeto. O que significa que a nossa idéia (significado) de um objeto é a idéia dos efeitos sensíveis que concebemos que esse objeto tem. As sete conferências que Peirce fez em Harvard, em 1903, a convite de William James, procuram dar uma resposta lógica e não psicológica, ao problema da máxima pragmatista, formulado nos seguintes termos: "Qual é a prova de que os efeitos práticos de um conceito constituem a soma total do conceito?". A resposta a este problema leva Peirce a afirmar que a questão do pragmatismo não é mais que a questão da abdução. Para "afiar" a máxima pragmatista, Peirce propõe as seguintes proposições "cotárias" (do latim cotis, afiar): a) "Nada está no intelecto que primeiro não tenha estado nos sentidos": este princípio aristotélico significa, para Peirce, que nenhuma idéia, seja de que tipo for, se encontra na mente sem ter passado primeiro por um juízo perceptivo, ou seja, o juízo perceptivo é a fonte do conhecimento. No entanto, esta concepção coloca o seguinte problema: sendo os juízos perceptivos juízos particulares, como se passa deles para os conceitos e juízos universais? Este problema leva Peirce à segunda proposição cotária. b) Os juízos perceptivos contêm elementos gerais: embora os juízos perceptivos sejam singulares, ao nível do sujeito eles não deixam de envolver a generalidade, ao nível do predicado, possibilitando, assim, a dedução de proposições gerais. Como se faz a introdução da generalidade nos juízos perceptivos? Pelo tipo de raciocínio a que Peirce chama abdução. A Lógica e a Teoria do Conhecimento tradicional distinguem dois tipos de raciocínio: a dedução (prova que algo deve ser, é uma inferência necessária que extrai uma conclusão contida em certas premissas, cuja verdade deixa, no entanto, em aberto) e a indução (prova que algo realmente é, é uma inferência experimental que não consiste em descobrir, mas em confirmar uma teoria através da experimentação - e que, portanto, não cria algo de novo). A criação quer das premissas (fundamentoras da dedução) quer das teorias (fundamentoras da indução), é, deste modo, exterior aos dois tipos tradicionais de raciocínio, e reside na abdução. A abdução, que prova que algo pode ser, é uma inferência hipotética, é o verdadeiro método para a criação de novas hipóteses explicativas. O modelo da inferência abdutiva pode ser traduzido da forma seguinte: "Um fato surpreendente, C, é observado. Mas, se A fosse verdadeiro, C seria natural. Donde há razão para suspeitar que A é verdadeiro". Mas como entra, através da abdução, a generalidade nos juízos perceptivos? Esta questão conduz-nos à terceira proposição cotária. c) A inferência abdutiva transforma-se no juízo perceptivo sem que haja uma linha clara de demarcação entre eles: os juízos perceptivos são casos extremos de inferências abdutivas. A percepção tem sempre, segundo Peirce, um fundo abdutivo e interpretativo, não se limita a ser um mero "dado". Seja o seguinte exemplo de juízo perceptivo, feito num lindo dia de sol: "Está a cair água do telhado". A partir deste juízo perceptivo, várias inferências abdutivas são possíveis, por exemplo: "Alguém está a deitar água no telhado" ou "A neve acumulada no telhado está a derreter". Enquanto a inferência abdutiva admite sempre a possibilidade de ser negada (para afirmarmos uma outra), no caso dos juízos perceptivos não nos é possível conceber a sua negação ("prova da inconceptibilidade"). Como distinguir, de entre a infinidade de hipóteses explicativas de um fenômeno teoricamente possíveis, as que são admissíveis e as que não o são? A resposta a esta pergunta reside na máxima pragmatista - é ela que nos fornece o critério de admissibilidade das hipóteses explicativas. É neste sentido que, segundo Peirce, a questão do pragmatismo é a questão da abdução. Só são admissíveis as hipóteses das quais podemos conceber determinados efeitos práticos sensíveis, que vão guiar a conduta de quem as formulou. Assim entendida, a máxima pragmatista pode formular-se do seguinte modo: uma concepção não pode ter efeito lógico algum, ou importância a diferir do efeito de uma segunda concepção, salvo na medida em que, tomada em conexão com outras concepções e intenções, poderia concebivelmente modificar a nossa conduta prática de um modo diverso do da segunda concepção. 7.3-SIGNOS. A Semiótica é a doutrina ou ciência dos signos, logo a noção central desta disciplina é, obviamente, a noção de Signo. Platão e Aristóteles vão distinguir, no que se refere às palavras, entre significado e significante e, sobretudo entre significação e referência. No entanto, Aristóteles não usa, habitualmente, a palavra semeion para se referir às palavras, a que se refere normalmente como symbolon. Os signos (semeia), referidos na Retórica, são uma das fontes dos entimemas ( a outra são os eikota ou verosímeis). Os signos são distinguidos em duas categorias: o tekmerion, no sentido de "prova", que poderíamos traduzir por "signo necessário" ou "forte" ("se tem febre, então está doente"), governado pela relação de implicação e indo do universal para o particular; e o "signo fraco" ("se tem a respiração alterada, então tem febre"), a que Aristóteles não dá um nome particular, governado pela relação de conjunção e indo do particular para o particular. Os Estóicos, apesar da articulação da sua semiótica, ainda não vão unificar, de forma clara, a doutrina da linguagem verbal e a doutrina dos signos. No que se refere à linguagem verbal, os Estóicos distinguiam entre "expressão" (semainon), "conteúdo" (semainomenon) e "referente" (tynchanon). Poder-se-ia dizer que, para os Estóicos, a língua aparece como sistema modelizante primário (Lotman). No entanto, será só com Stº Agostinho que, segundo Eco, se fará à união definitiva entre teoria dos signos e teoria da linguagem, aparecendo os signos lingüísticos como uma espécie ( entre outras espécies, como as dos letreiros, dos gestos, dos sinais ostensivos) do gênero signo. Quanto à noção de signo, Stº Agostinho dá duas definições que contemplam quer a sua dimensão semântico-representativa quer a sua dimensão comunicacional (representando, esta última, uma novidade em relação aos Estóicos): "Um signo é o que se mostra a si mesmo ao sentido, e que, para além de si, mostra ainda alguma coisa ao espírito" e "A palavra é o signo de uma coisa que pode ser compreendida pelo auditor quando é proferida pelo locutor". Em vez dos três elementos referidos pelos Estóicos, Stº Agostinho indica quatro elementos constitutivos do signo: a palavra (verbum), o exprimível (dicibilis), a expressão (ditio) e a coisa (res), ainda que verbum e ditio pareçam poder ser tomados como sinónimos, referindo-se o primeiro ao aspecto comunicativo e o segundo ao aspecto semântico-referencial do signo. A esta concepção triádica do signo, profundamente radicada na tradição filosófica, vai opor-se claramente Saussure (e a tradição que dele emana). Saussure define o signo (lingüístico) da seguinte forma: "O signo lingüístico une não uma coisa e um nome, mas um conceito e uma imagem acústica. Esta última não é o som material, coisa puramente física, mas a marca psíquica desse som, a representação que dela nos dá o testemunho dos nossos sentidos; ela é sensorial, e se nos acontece chamar-lhe “material”, é apenas neste sentido e por oposição ao outro termo da associação, o conceito, geralmente mais abstrato". O signo apresenta, assim, uma dupla face: significante ("imagem acústica") e significado ("conceito"), excluindo-se claramente o referente (e, em conseqüência, pelo menos assim o pensava Saussure, a concepção da língua como nomenclatura, ligando palavra-coisa). A concepção Peirceana do signo é claramente herdeira da tradição lógico-filosófica (estóica e agostiniana) do signo e ultrapassa, claramente, a concepção Saussuriana do mesmo. a) Um signo, ou representamen, é aquilo que, sob certo aspecto ou modo, representa algo para alguém. Dirige-se a alguém, isto é, cria na mente dessa pessoa um signo equivalente, ou talvez um signo mais desenvolvido. Ao signo assim criado denomino interpretante do primeiro signo. O signo representa alguma coisa, seu objeto. Representa esse objeto não em todos os seus aspectos, mas com referência a um tipo de idéia que eu, por vezes, chamei fundamento do representamen. "Idéia" deve ser aqui entendida num certo sentido platônico." b) Um Signo é tudo aquilo que está relacionado com uma Segunda coisa, seu Objeto, com respeito a uma Qualidade, de modo tal a trazer uma Terceira coisa, seu Interpretante, para uma relação com o mesmo Objeto, e de modo tal a trazer uma Quarta para uma relação com aquele Objeto na mesma forma, ad infinitum. Se a série é inter-rompida, o Signo, por enquanto, não corresponde ao caráter significante perfeito. c) Um Signo, ou Representamen, é um Primeiro que se coloca numa relação triádica genuína tal com um Segundo, denominado seu Objeto, que é capaz de determinar um Terceiro, denominado seu Interpretante, que assume a mesma relação triádica com seu Objeto na qual ele próprio está em relação com o mesmo Objeto. d) Signo é qualquer coisa que conduz alguma outra coisa (seu interpretante) a referir-se a um objeto ao qual ela mesma se refere (seu objeto) de modo idêntico, transformando-se o interpretante, por sua vez, em signo, e assim sucessivamente, ad infinitum. Se a série de interpretantes sucessivos vem a ter fim, em virtude desse fato o signo torna-se, pelo menos, imperfeito. A classificação dos signos é um dos problemas que a Semiótica ainda não conseguiu resolver de forma totalmente satisfatória. A prova disso são as sucessivas classificações, mais ou menos inspiradas em Peirce, tentadas por Eco. Segundo este autor, o único pensador que, até hoje, tentou uma classificação global dos signos foi Peirce, tendo, no entanto a sua classificação ficada incompleta. Apesar disso, muitas das distinções feitas por Peirce ganharam direitos de cidadania na Semiótica e, por isso, importa fazer aqui a sua análise, ainda que sumária. Os signos podem ser classificados a partir de três pontos de vista: Signo em si, relação do Signo com o Objeto e relação do Signo com o Interpretante. Obtêm-se, assim, as três tricotomias e as nove categorias seguintes: - Signo em si: Qualisigno (Tone), Sinsigno (Token), Legisigno (Type). - Signo em relação com o Objeto: Índice, Ícone e Símbolo. - Signo em relação com o Interpretante: Rema, Dicisigno, Argumento. Da combinação destas categorias derivam dez classes de signos as outras combinações teoricamente possíveis não têm significado, que nos dispensaremos de analisar aqui. Classes que, no entanto, nem sempre é fácil saber como aplicar. Como diz Peirce, é um terrível problema dizer a que classe um signo pertence. Peirce define, num texto de 1903, cada uma das nove categorias anteriores indica-se, entre parêntesis, a respectiva exemplificação e/ou interpretação: - Qualisigno (Tone): é uma qualidade que é um Signo. Por exemplo, tom de voz, vestuário, etc. - Sinsigno (Token ou "ocorrência"): é uma coisa ou evento existente e real que é um Signo por exemplo, todos os /o/ deste texto. - Legisigno (Type ou tipo): é uma lei que é um Signo. Traduz-se nos sinsignos, que são as suas "ocorrências"; exemplo: o artigo definido "o", que se traduz nos /o/ deste e de outros textos. - Ícone: é um signo que se refere ao Objeto que denota apenas em virtude dos seus caracteres próprios, caracteres que ele igualmente possui quer um tal Objeto realmente exista ou não; qualquer coisa, seja uma qualidade, um existente individual ou uma lei, é Ícone de qualquer coisa, na medida em que for semelhante a essa coisa e utilizado como um seu signo (inclui, como subcategorias, as imagens, os diagramas e as metáforas; exemplos: fotografias, desenhos, diagramas, fórmulas lógicas e algébricas, imagens mentais, etc.). - Índice: é um signo que se refere ao Objeto que denota em virtude de ser realmente afetado por esse Objeto. Funda-se não na semelhança, como o Ícone, mas na conexão física com o Objeto; exemplos: dedo apontado para um objeto, cata-vento, fumo como sintoma do fogo, pronome /este/, referido a um objeto, os quantificadores lógicos, etc. - Símbolo: é um signo que se refere ao Objeto que denota em virtude de uma lei, normalmente uma associação de idéias gerais que opera no sentido de fazer com que o Símbolo seja interpretado como se referindo àquele Objeto. Exemplos de Peirce: todas as palavras, frases, livros e outros signos convencionais. - Rema (Termo): é um Signo que, para o seu Interpretante, é um Signo de Possibilidade qualitativa, ou seja, é entendido como representando esta e aquela espécie de Objeto possível. É ou um termo simples, ou uma descrição, ou uma função. Por exemplo: Sócrates, alto, e, etc. - Dicisigno (Proposição): é um Signo que, para o seu Interpretante, é um Signo de existência real. Uma proposição como, por exemplo, "Sócrates é mortal". - Argumento: é um Signo que, para o seu Interpretante, é Signo de lei. É um raciocínio complexo, por exemplo, um silogismo. Para percebermos melhor o funcionamento daquela que Peirce considera ser "a mais importante divisão dos signos", em Ícones, Índices e Símbolos, vejamos os seguintes exemplos de Peirce - que mostram como, na linguagem do quotidiano, Símbolos, Ícones e Índices se relacionam: Exemplo 1. Um homem, que caminha com uma criança, levanta o braço para o ar e aponta, dizendo: "Lá está um balão". A criança pergunta: "O que é um balão?". Responde o homem: "É parecido com uma grande bolha de sabão". Neste exemplo verifica-se que: o braço apontado para o ar funciona como um Índice (denota um individual), a bolha de sabão funciona como um Ícone, e as palavras funcionam como Símbolos. Exemplo 2. Se eu digo "Todo o homem ama uma mulher", isto equivale a dizer "Tudo o que for homem ama algo que é mulher". Neste exemplo verifica-se que: "tudo o que" (quantificador universal) e "algo que" (quantificador particular) funcionam como Índices; "for homem", "ama" e "mulher" funcionam como Símbolos. Exemplo 3. A diz a B: "Há um fogo". B pergunta: "Onde?". Responde B: "A cerca de mil metros daqui". Neste exemplo, "metros" e "daqui" funcionam como Índices, e os restantes signos como Símbolos. Sobre a relação entre Índices, Ícones e Símbolos, Peirce diz ainda que ela está presente em qualquer proposição, sendo impossível encontrar uma proposição, por mais simples que seja, que não faça apelo a pelo menos dois destes tipos de signos. Especialmente importante é o papel que Peirce atribui ao Ícone, que considera a única maneira de comunicar diretamente uma idéia, levando a que todo o método de comunicação indireta de uma idéia deve passar pelo uso de um Ícone. Assim, toda a asserção deve conter um Ícone ou um conjunto de Ícones, ou signos cujo significado só seja explicável por Ícones. No dizer de Peirce, o Predicado de uma asserção é a idéia significada por um conjunto de ícones ou o equivalente a um conjunto de ícones contido numa asserção. De qualquer modo, só num determinado contexto podemos determinar se um signo funciona como um Índice, um Ícone ou um Símbolo. Por exemplo: o fumo tanto pode significar fogo, como nevoeiro, como se aproxima um rosto-pálido, no caso dos sinais de fumo. Com a sua teoria da abdução, Peirce vai romper com os paradigmas referencialista e ideacionista do Signo, ambos baseados na noção de equivalência ou entre signo-referente ou entre significante-significado. Trata-se, agora, de substituir a noção de equivalência pela de implicação. Um signo é algo através do qual nós conhecemos algo mais. |
terça-feira, 4 de março de 2008
Semiotica semiologia, psicanalise e teoria da comunicaçao
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